URGENTE: Após depoimento, Bolsonaro acaba de ser…

Mistério, ironias e uma possível conspiração: o depoimento que pode redesenhar a democracia brasileira
Brasília — A cena parecia saída de um roteiro cinematográfico. No banco dos depoentes, o ex-presidente Jair Bolsonaro. No centro da sala, o ministro Alexandre de Moraes. Ao redor, uma atmosfera densa, quase palpável, em um Supremo Tribunal Federal que se tornou palco de uma possível reviravolta histórica. O que está em jogo? Nada menos que a integridade do processo democrático no Brasil.
Foi nesta terça-feira (10), em um dos momentos mais aguardados do ano político, que Bolsonaro compareceu à Primeira Turma do STF para prestar esclarecimentos sobre sua suposta participação em uma articulação golpista que visava impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, eleito em 2022.
Mas quem esperava um depoimento técnico, contido ou protocolar, se surpreendeu. O que se viu foi um ex-presidente ora provocador, ora evasivo, mas sempre consciente do peso simbólico de cada frase. Uma performance cuidadosamente calculada? Talvez. O certo é que, ao final da sessão, ficou claro: o jogo político continua mais vivo do que nunca — e ainda repleto de perguntas sem resposta.
“Quer ser meu vice?”: o comentário que desarmou — ou inflamou — o plenário
Logo nos primeiros minutos, Bolsonaro mostrou que não havia perdido o gosto pelas frases de efeito. Com um meio sorriso e voz baixa, dirigiu-se ao ministro Alexandre de Moraes: “Quer ser meu vice nas próximas eleições?”
A frase, proferida diante do relator do inquérito que investiga uma possível tentativa de golpe, arrancou risos nervosos. Foi ironia, deboche ou provocação? A interpretação dividiu juristas e analistas políticos, mas uma coisa é certa: não era apenas uma piada. Era também uma estratégia.
Esse momento desconcertante deu o tom do depoimento: uma mistura de descontração aparente e declarações cuidadosamente pensadas para provocar ambiguidade.
A minuta e o discurso da legalidade: Bolsonaro tenta escapar do rótulo de golpista
O ponto central da investigação é a chamada “minuta do golpe” — um documento apreendido pela PF que supostamente traçava uma estratégia para reverter o resultado das eleições. Bolsonaro tentou minimizar o conteúdo, alegando que a minuta era apenas “um exercício hipotético” e negando qualquer intenção fora da Constituição.
“Minuta do mal? Isso é interpretação. Não houve plano de golpe, e tudo o que foi discutido cabia dentro da legalidade. Não houve nada fora das quatro linhas da Constituição”, afirmou, com expressão séria.
Contudo, especialistas alertam que o discurso da “legalidade” pode não resistir à análise de mensagens, documentos e depoimentos já colhidos no inquérito. Há uma linha tênue entre especulação e conspiração — e o STF está determinado a descobrir de que lado Bolsonaro estava.
Fuga simbólica: o silêncio da rampa
Em um dos momentos mais simbólicos, Bolsonaro explicou sua ausência na posse de Lula, decisão que à época gerou polêmica nacional.
“Não fui subir a rampa para não me submeter à maior vaia da história do Brasil. Era uma questão de dignidade pessoal”, declarou.
A frase, apesar de simples, traz implicações profundas: ao evitar a cerimônia de transição, Bolsonaro também evitou o gesto institucional de reconhecimento da vitória do adversário — um dos rituais mais importantes da democracia.
PRF nas urnas: “fiquei sabendo depois”
Ao ser confrontado sobre a suposta operação da Polícia Rodoviária Federal no segundo turno — que teria como alvo eleitores de Lula — Bolsonaro negou qualquer conhecimento prévio.
“Fiquei sabendo depois. E, pelo que me disseram, todo mundo conseguiu votar.”
A resposta, embora categórica, contrasta com relatórios oficiais e investigações em andamento que apontam atuação intensa da PRF em áreas de maioria lulista. Para analistas, essa é uma das partes mais delicadas do inquérito, e pode ser decisiva para o desfecho do caso.
8 de Janeiro: “pobres coitados”, não golpistas
Sobre os atos de 8 de Janeiro de 2023, que chocaram o país e o mundo, Bolsonaro voltou a negar qualquer envolvimento. Mais do que isso, tentou desqualificar os próprios manifestantes.
“Aquilo não foi golpe. Me dá arrepio só de pensar. Aquilo foi coisa de pobre coitado, não de articulador.”
A fala pareceu ensaiada, parte de uma estratégia de dissociação — descolar sua imagem dos extremistas que depredaram os Três Poderes. Mas será suficiente?
O que vem a seguir?
O depoimento de Jair Bolsonaro foi apenas uma peça — ruidosa e enigmática — de um quebra-cabeça muito maior. Ainda há dezenas de investigados, centenas de páginas de documentos e uma série de contradições que o STF precisa esclarecer.
Nos corredores silenciosos de Brasília, a pergunta ecoa como uma ameaça e uma promessa: até onde essa investigação pode chegar — e quem ela pode derrubar?
Uma coisa é certa: o jogo ainda está em aberto. E o roteiro, digno de um suspense político, está longe do fim
