Mulher desaparecida há mais de 1 ano com seus 2 filhos é encontrada dentro da.. Ver mais

Fuga pela Vida: Brasileira Acusada de Sequestro Revela Bastidores de Pesadelo na Argentina
Uma história de terror psicológico, ameaças veladas e a decisão mais difícil de uma mãe: fugir com os filhos ou arriscar perdê-los para sempre.
Era madrugada em City Bell, uma pacata cidade argentina, quando Juliana Magalhães de Lima, 33 anos, fechou a porta de casa pela última vez. Carregava consigo apenas duas malas e os filhos — de 7 e 9 anos — nos braços. Não havia despedidas, apenas silêncio e medo. A decisão de deixar tudo para trás não foi planejada com meses de antecedência. Foi fruto do desespero, de uma rotina que, segundo ela, beirava a tortura emocional e física.
Agora, quase um ano depois, Juliana vive em Fortaleza, no Ceará, com os dois meninos. Mas a paz que buscava ainda não chegou. Do outro lado da fronteira, seu ex-marido, o argentino Herman Krause, 52 anos, a acusa formalmente de sequestro internacional de menores. A denúncia resultou na inclusão de Juliana na lista amarela da Interpol, que reúne pessoas desaparecidas.
Mas Juliana rebate: “Desaparecida? Estou aqui. Protegendo meus filhos. Fugimos para sobreviver”, afirma com voz firme, mas visivelmente abalada.
Uma história contada em silêncio
Por trás das acusações, o que emerge é uma narrativa densa, marcada por medo, violência e um sistema judicial que, segundo Juliana, fechou os olhos para os sinais de perigo.
“Eu não tinha vida. Era vigiada, ameaçada, perseguida. Meus filhos tinham medo do próprio pai. Ele gritava, batia neles. Me agredia. Até ameaçou me matar”, conta.
Ela afirma que a decisão de deixar a Argentina, em outubro de 2024, foi tomada após meses de terror doméstico. A gota d’água? Um suposto plano de Herman de tirar a guarda dos filhos e interná-la em uma clínica psiquiátrica — alegação que ela não consegue provar, mas que sustenta com o olhar de quem já perdeu noites demais tentando proteger os filhos.
Medidas ignoradas, ameaças renovadas
A reportagem teve acesso a documentos da Justiça argentina que revelam que, desde junho de 2023, Herman estava proibido de se aproximar da residência onde Juliana vivia com os filhos. A decisão judicial incluía também restrições quanto a qualquer contato que pudesse ser considerado intimidador.
Mas, segundo Juliana, as medidas eram letra morta. As ameaças continuavam, e o medo se agravava. “Mesmo com a ordem de restrição, ele nos seguia. Aparecia onde eu estava. Sabia dos meus passos. Era como se estivesse sempre por perto”, relata.
O episódio mais assustador, segundo ela, aconteceu já no Brasil. Em novembro do ano passado, Herman teria vindo até Fortaleza, onde teria feito ameaças diretas aos familiares de Juliana. “Disse à minha tia que, quando nos encontrasse, iria nos matar”, conta, com a voz embargada.
Relatos que chocam
O que mais pesa na denúncia feita por Juliana não são suas palavras, mas sim as declarações dos próprios filhos. Um relatório de saúde mental elaborado no início de 2024, ao qual a defesa de Juliana teve acesso, registra depoimentos alarmantes das crianças.
“Elas contaram que o pai batia nelas e que, por diversas vezes, as obrigava a cozinhar sozinhas, mesmo ainda tão pequenas”, diz um trecho do laudo. A especialista que assinou o documento descreve traços claros de trauma nas crianças.
Juliana afirma que os filhos foram fundamentais para a decisão de deixar o país. “Eles pediram para ir embora. Disseram que estavam com medo de morrer. Que não aguentavam mais. Como mãe, o que eu faria? Esperaria o pior acontecer?”, questiona.
Entre dois países, uma só busca: proteção
Apesar de viver hoje em Fortaleza, o caso ainda se desenrola entre dois sistemas judiciais — o argentino e o brasileiro. Juliana conta com equipes de advogados atuando em ambos os países e já conseguiu, no Brasil, uma medida cautelar de proteção válida para ela e para os filhos.
Mas o processo é longo e, para ela, emocionalmente devastador. “Não se trata de fugir da justiça. Trata-se de sobreviver à injustiça”, afirma.
Ela diz que o ex-companheiro não via os filhos há cerca de um ano antes da fuga, em razão das batalhas judiciais travadas entre o casal. “Ele perdeu o contato porque foi afastado. A Justiça argentina sabia. Mas mesmo assim, ele agora quer inverter tudo e me fazer parecer criminosa.”
O que está em jogo?
No centro dessa disputa, não está apenas a guarda de duas crianças. Está a credibilidade de sistemas judiciais que, por vezes, falham em proteger as vítimas mais vulneráveis. Está a palavra de uma mulher que afirma ter escapado por um fio da tragédia. E está o futuro de dois meninos que, segundo ela, só querem crescer em paz.
“Quero que eles tenham uma vida normal. Com escola, com amigos, com segurança. Longe do medo. Longe da violência. Isso não é crime. É amor de mãe.”
Enquanto a justiça dos homens tenta decidir quem está certo, Juliana se agarra ao que considera inegociável: a vida dos filhos em primeiro lugar.
