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Brian Wilson: O Gênio que Ouviu as Vozes do Mar e Silenciou Antes do Fim

Por trás dos refrões ensolarados que definiram uma geração, um homem travava sua maior batalha no mais absoluto silêncio. Brian Wilson, o arquiteto sonoro por trás dos Beach Boys e autor de algumas das mais belas harmonias da música pop, morreu aos 82 anos. Mas sua história – cheia de brilhos, sombras e abismos – está longe de morrer.

Na manhã desta quarta-feira (11), uma mensagem publicada nas redes sociais da família de Wilson caiu como uma nota dissonante no coração de fãs ao redor do mundo.

“É com o coração partido que anunciamos o falecimento do nosso querido pai, Brian Wilson. Estamos sem palavras neste momento. Por favor, respeitem nossa privacidade, pois nossa família está de luto. Sabemos que estamos compartilhando nossa dor com o mundo.”

Foi o fim de uma era – e de um enigma. Mas, afinal, quem foi Brian Wilson além da figura mítica associada às ondas, carros conversíveis e praias da Califórnia?

O Sol por Trás da Sombra

Nas fotos promocionais, Brian parecia apenas mais um jovem sorridente dos anos 60. Mas quem olhava de perto, percebia um olhar distante, como se ele estivesse escutando algo que ninguém mais conseguia ouvir.

Nascido em Inglewood, Califórnia, em 1942, Brian formou os Beach Boys com seus irmãos Dennis e Carl, o primo Mike Love e o amigo Al Jardine. O grupo foi responsável por eternizar a estética do “verão sem fim” americano. Mas a verdadeira tempestade não vinha do céu: estava dentro dele.

Enquanto o mundo cantava “Good Vibrations”, Brian enfrentava, em silêncio, distúrbios mentais que o acompanhariam por toda a vida. O diagnóstico mais recente foi devastador: um distúrbio neurocognitivo severo, próximo da demência. Antes disso, foi a esquizofrenia que tentou silenciá-lo.

Mas ele resistiu — com música.

Pet Sounds: Um Sussurro na Tempestade

Em 1966, Wilson lançava sua obra-prima: Pet Sounds. Hoje, é quase um consenso entre críticos que o álbum mudou o curso da música popular. Mas, na época, o disco foi um fracasso comercial.

Aquilo que deveria ser seu auge tornou-se um mergulho sem volta. O gênio recuou. Os shows pararam. A mente criativa que moldava sinfonias perfeitas com vozes humanas agora lutava para se manter em pé.

Foi nesse período que ele começou a trabalhar no mítico álbum Smile. Um projeto tão ousado e complexo que levou mais de quatro décadas para ser concluído. Enquanto o mundo esperava, Brian flutuava entre terapias, isolamentos e colapsos nervosos. Sua vida parecia um disco preso no sulco mais frágil.

A Canção que Nunca Terminava

A história dos Beach Boys também foi marcada por conflitos internos, batalhas judiciais e tragédias pessoais. Dennis se afogou em 1983; Carl morreu de câncer em 1998. A banda, que começou como uma celebração da juventude americana, aos poucos foi se tornando um retrato da fragilidade humana.

Brian, no entanto, nunca parou completamente. Mesmo nas fases mais sombrias, surgiam canções, álbuns, turnês. Em 2004, veio ao Brasil para apresentar Smile, como se precisasse — diante de um público que o venerava — provar para si mesmo que ainda estava vivo por dentro.

Cinema, Piano e a Última Nota

Hollywood se encantou pela sua trajetória. O filme Love & Mercy (2014) mostrou duas versões de Wilson — o jovem prodígio e o homem quebrado —, ambos interpretados por atores diferentes. Já o documentário Long Promised Road (2021) revelou a face mais humana por trás do mito: um homem frágil, doce, e eternamente em busca de paz.

Em seus últimos anos, Brian encontrou conforto em projetos mais íntimos, como o álbum At My Piano (2021), onde revisitava seus sucessos em interpretações instrumentais melancólicas. Era como se, sem precisar dizer nada, ele estivesse se despedindo aos poucos.

A morte de sua esposa, Melinda Ledbetter, em 2024, foi um golpe duro. Ela havia sido sua âncora nos momentos mais turbulentos, sua voz de comando quando a realidade começava a desbotar. Um ano depois, Brian a seguiu — como se sua última canção tivesse perdido o refrão.

O Eco que Permanece

Brian Wilson deixa sete filhos e um legado que transcende estilos, gerações e fronteiras. Mas o que ele realmente nos deixa não pode ser medido em discos vendidos ou prêmios recebidos.

Sua arte nos lembra que a beleza mais profunda muitas vezes nasce da dor mais silenciosa. Que o som pode curar o que as palavras não alcançam. E que, mesmo quando tudo parece ruir, ainda podemos compor algo eterno.

Hoje, enquanto as rádios voltam a tocar God Only Knows, o mundo escuta, mais uma vez, aquilo que Brian sempre tentou nos dizer por entre as melodias: a música pode salvar. Mesmo que, às vezes, chegue tarde demais.

E talvez, só talvez… o silêncio de Brian Wilson seja sua mais bela canção.LUTO: Acabamos de perde uma das maiores estrelas da música, o amado D… Ver mais