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Lula humilha Bolsonaro, fala de depoimento e diz que Jair estava quase se cagan… Ver mais

Entre promessas e provocações: a visita de Lula a Mariana vira campo de batalha política

Mariana (MG) – O que deveria ser um dia de união, reconstrução e homenagens rapidamente se transformou em um campo de embate político, carregado de tensão, discursos inflamados e mensagens cifradas. A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Mariana e Contagem, em Minas Gerais, nesta quinta-feira (12), terminou deixando no ar uma pergunta inevitável: foi um ato de governo ou o prenúncio de uma campanha?

O palco montado para anunciar ações de reparação pela tragédia de 2015 — quando a barragem da Samarco se rompeu, matando 19 pessoas e devastando parte da cidade — virou uma arena de discursos acalorados e recados diretos à oposição. O clima, que começou como institucional, logo ganhou contornos de um comício antecipado.

Um ataque que incendiou o palanque

Dois dias após o ex-presidente Jair Bolsonaro depor ao Supremo Tribunal Federal, Lula subiu ao microfone já com o discurso afiado. Sem mencionar nomes inicialmente, disparou:

Você vê que ele é um covardão. Os lábios secos, quase se borrando… É muito fácil ser valente dentro de casa, no celular, falando mal dos outros.

A plateia reagiu com risos e aplausos. Mas o que poderia parecer apenas um desabafo momentâneo logo revelou seu verdadeiro propósito: Lula estava ali para demarcar território. A mira se estendeu aos deputados que, segundo ele, “vivem de celular” e se escondem atrás das redes sociais para propagar fake news.

Tem deputado que não fala, só grava, xinga e corre. O celular virou uma arma para banalizar a política, disparou. A indireta tinha alvos evidentes: Nikolas Ferreira (PL-MG) e Carlos Jordy (PL-RJ), que protagonizaram dias antes uma discussão com o ministro Fernando Haddad.

Câmara tóxica e o “fantasma de 2016”

O presidente não poupou críticas à atual atmosfera no Congresso. Falou em “muita raiva no ar”, “intriga”, e chamou a Câmara de “ambiente pesado”. Mas o verdadeiro pivô do dia foi o xadrez político de Minas Gerais. E Lula revelou estar jogando várias jogadas à frente.

Ao lado do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), Lula fez um gesto claro: elogiou efusivamente o senador, sugerindo que ele seria “o nome certo” para governar Minas a partir de 2026.

Nenhum desses picaretas de celular tem chance contra o Pacheco, afirmou, mirando Nikolas Ferreira e o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG), dois nomes da direita que despontam como pré-candidatos ao Palácio Tiradentes.

Em uma comparação simbólica, Lula relembrou a eleição de João Doria em São Paulo como um erro que não pode se repetir em Minas. E sem citar Romeu Zema, mandou um recado direto:

Depois de tudo o que esse estado passou, Minas não merece Nikolas nem Cleitinho. Saio daqui com a certeza: já temos um governador.

Vaias, tensão e um pedido de respeito

O momento mais tenso do evento aconteceu logo no início. O prefeito de Mariana, Juliano Duarte (PSB), mal começava a falar sobre a tragédia de 2015 quando foi interrompido por vaias vindas da plateia. Lula interveio imediatamente:

O prefeito é meu convidado. Se vocês querem protestar, façam no momento certo. Hoje é um dia histórico para Mariana, não um palanque, repreendeu, com firmeza.

Com a tensão aliviada, o prefeito retomou a palavra. Em tom emocionado, destacou que nenhum presidente havia visitado Mariana desde o rompimento da barragem, e defendeu: “Mariana não quer ser a cidade da lama, mas da reconstrução coletiva”.

Vale sob pressão e o futuro da reparação

Ao final do evento, Lula mirou a Vale. Em um dos momentos mais contundentes do dia, o presidente criticou a antiga diretoria da mineradora e cobrou responsabilidade da nova gestão:

Se a Vale fosse uma pessoa, já estaria nas profundezas. Agora tenta se reerguer. O que queremos é respeito. A relação com o povo tem que ser civilizada.

O novo acordo de reparação — avaliado em R$ 170 bilhões — ainda gera impasses. Mariana, epicentro da tragédia, recusou assinar o documento por discordar da forma como os recursos serão distribuídos. Ainda assim, a cidade foi incluída no pacote de ações federais, que inclui um novo hospital universitário e programas sociais.

Agora não temos desculpa. A responsabilidade também é nossa, concluiu Lula.

Reconstrução ou reconfiguração política?

O evento em Mariana serviu para muito mais do que anúncios. Entre promessas e indiretas, Lula movimentou as peças de um tabuleiro que promete grandes embates em 2026. A reconstrução da cidade caminha, sim — mas junto a ela, cresce também uma estratégia política que já começa a mostrar suas cartas.

A pergunta que fica é direta e inquietante: a visita de Lula marca um novo capítulo para Mariana — ou apenas o primeiro lance de uma campanha que já começou, mesmo sem ter sido oficialmente anunciada?

Minas escutou Lula. Mas, até 2026, ainda vai decidir se vai seguir com ele — ou contra ele.