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FOI CONFIRMADO: 17 anos após crime Alexandre Nardoni foi s… Ver mais

Alexandre Nardoni está em liberdade: o silêncio que grita no caso que o Brasil nunca esqueceu

Por trás dos portões da Penitenciária II de Tremembé, uma porta se abriu — e com ela, memórias que nunca se fecharam para o país.

Era fim de tarde, segunda-feira, 6 de maio. Às 18h10, um homem cruzou os portões da prisão no interior paulista sem algazarra, sem imprensa, sem qualquer sinal de comoção. Mas o silêncio do momento contrastava violentamente com o estrondo que seu nome ainda provoca na memória nacional. Alexandre Nardoni, condenado pelo assassinato da própria filha, Isabella Nardoni, de apenas cinco anos, estava livre após 16 anos de pena.

Sua saída foi legalmente respaldada: a Justiça autorizou a progressão ao regime aberto. Mas a pergunta ecoa no coração de muitos brasileiros: liberdade para quem matou uma criança indefesa — pode haver redenção?

Um nome que ainda assombra

O caso Isabella marcou o Brasil em 2008. A imagem da menina caída do sexto andar de um prédio na Zona Norte de São Paulo permanece, até hoje, como uma ferida aberta. As investigações, as provas, os depoimentos, e a frieza do casal envolvido — Alexandre e sua esposa, Anna Carolina Jatobá — escancararam um crime brutal cometido dentro do próprio lar.

Condenado a mais de 30 anos de prisão, Nardoni se tornou símbolo daquilo que há de mais cruel: a traição de um pai. A madrasta também cumpriu pena e já está em liberdade. Agora, ambos estão de volta à mesma residência — a casa do pai de Alexandre, no bairro de Santana, capital paulista.

A ironia disso tudo quase soa como roteiro de ficção. Mas é realidade.

Uma nova vida — ou apenas outro capítulo da mesma história?

Segundo o laudo social que embasou a decisão da Justiça, Alexandre Nardoni irá trabalhar na construtora da família, comandada por seu pai, o empresário Antônio Nardoni. A mesma casa que abrigará a nova rotina também carrega as sombras de um passado que não se apaga.

O documento afirma que ele viverá ali com o pai, a madrasta (sim, Jatobá), um irmão e os filhos. Um lar reconstruído — mas sob que alicerces?

As condições da liberdade são claras: Alexandre deve permanecer em casa durante o período noturno, comprovar emprego em até 90 dias e apresentar-se regularmente à Vara de Execuções Criminais. Ele também não pode se ausentar da cidade sem autorização judicial.

Justiça ou revitimização?

A defesa de Nardoni, representada pelo advogado Roberto Podval, foi rápida ao classificar a decisão como “irretocável”. Para ele, a progressão de regime é um reflexo do que a lei prevê: reabilitação, não apenas punição.

O histórico do condenado, de fato, mostra bom comportamento e dedicação a estudos e trabalhos dentro do presídio — o que lhe garantiu a remissão de quase três anos da pena. Para a defesa, isso basta.

Mas o Ministério Público de São Paulo não concorda. Entrou com recurso e tenta, na Justiça, reverter a soltura. O recurso ainda será julgado, mas até lá, Alexandre caminha pelas ruas em liberdade.

E com ele, caminha a indignação pública.

Quando a justiça legal desafia a justiça moral

A liberdade de Nardoni escancara uma discussão incômoda: a Justiça está cumprindo seu papel ao permitir que um homem condenado por um crime tão brutal retome a vida em sociedade? Ou estaria revitimizando não apenas a mãe de Isabella, mas toda uma nação que acompanhou o caso em lágrimas e revolta?

Em 29 de março de 2008, Isabella foi brutalmente assassinada. Segundo a sentença, ela foi agredida e, em seguida, jogada pela janela. Uma criança de cinco anos, entregue à morte por quem deveria protegê-la.

Agora, 16 anos depois, o responsável por esse ato caminha livre. Não há mais grades. Mas a prisão da memória coletiva continua intacta.

Um país em suspensão

A saída de Alexandre não encerra a história. Pelo contrário: reacende feridas, provoca debates e lança dúvidas sobre os limites do perdão social.

Ele poderá reconstruir sua vida. Mas o Brasil ainda tenta entender se é possível virar essa página — ou se ela simplesmente se repete com nova roupagem.

Quantos anos são suficientes para se pagar por um crime assim? A ressocialização deve ser garantida mesmo para aqueles que cometeram atos considerados imperdoáveis? E, sobretudo: que mensagem a Justiça envia à sociedade quando libera um homem condenado por matar sua filha?

Essas perguntas permanecem — e talvez nunca tenham respostas que confortem.

Enquanto isso, Alexandre Nardoni tenta passar despercebido em uma metrópole que não o esqueceu. Mas há coisas que nem o tempo, nem o silêncio, conseguem apagar.