Notícias

Câncer no Ânus Raro Pode Aparecer Na Vida de Mulheres Que Praticam Se…Ver mais

Câncer anal: o alerta silencioso que viralizou nas redes e expôs um tabu perigoso

Um diagnóstico inesperado. Um tema incômodo. E uma declaração que incendiou a internet. O que parecia ser apenas mais uma entrevista médica se transformou em um chamado urgente à conscientização. Afinal, até que ponto o desconhecimento pode custar vidas?

Tudo começou de maneira discreta — um episódio do podcast “Corpo em Alerta”, publicado numa manhã de quarta-feira, sem grande alarde. A convidada, Dra. Fernanda Lopes, oncologista respeitada no meio acadêmico e conhecida por seu trabalho em prevenção de cânceres femininos, parecia apenas compartilhar informações técnicas, até que uma frase caiu como uma bomba:

“Estamos vendo um aumento significativo de câncer anal em mulheres jovens, sexualmente ativas, e muitas sem qualquer histórico familiar da doença.”

O silêncio que se seguiu no estúdio foi substituído, horas depois, pelo burburinho crescente nas redes sociais. O trecho da entrevista viralizou. Milhares de compartilhamentos, comentários em tom de espanto, críticas — e, claro, questionamentos. Afinal, o que estaria por trás desse crescimento inesperado nos casos de um câncer tão pouco falado?

O tabu que adoece

O que chocou muitos ouvintes foi a associação feita pela especialista: relações sexuais anais desprotegidas, somadas à presença do HPV, estão entre os fatores de risco mais relevantes nesse tipo de câncer. A afirmação dividiu opiniões. De um lado, o susto legítimo de quem jamais ouviu falar do tema. De outro, críticas à suposta “culpabilização” feminina por práticas íntimas.

Mas os médicos foram categóricos ao rebater as acusações: o problema não está na prática em si, mas na falta de informação.

“Esse tipo de câncer ainda é cercado por silêncio. E o silêncio mata. Precisamos falar disso com clareza, sem medo, sem julgamentos”, afirma o ginecologista Dr. Marcelo Rangel, em entrevista ao portal Viva+. “O uso de preservativos, a vacinação contra o HPV e exames preventivos simples podem fazer toda a diferença.”

Joana: um caso que poderia ter sido evitado

Com a repercussão, vieram também os relatos. Entre eles, o de Joana (nome fictício), 39 anos, que viveu na pele o que tantos evitam sequer imaginar.

“Por meses eu sentia ardência, um desconforto estranho, mas tinha vergonha de procurar ajuda. Achei que era uma fissura comum, algo que ia passar”, conta ela. Quando finalmente procurou atendimento, recebeu o diagnóstico: câncer anal em estágio 2.

“Se eu tivesse ouvido isso antes, talvez tivesse ido ao médico logo. Talvez não tivesse deixado chegar tão longe.”

O depoimento de Joana é um lembrete doloroso de como o desconhecimento pode retardar diagnósticos e dificultar tratamentos.

HPV: o vírus silencioso

Pouco conhecido fora dos consultórios, o HPV (papilomavírus humano) é um dos grandes vilões dessa história. Altamente transmissível, pode permanecer anos no organismo sem apresentar sintomas — e, em certos casos, evoluir para lesões pré-cancerígenas ou tumores.

Embora a vacinação contra o HPV esteja disponível gratuitamente no SUS para meninas e meninos de 9 a 14 anos, a adesão ainda é baixa. Muitos pais, por falta de informação, associam a vacina a uma “autorização precoce” para o início da vida sexual — e ignoram o potencial preventivo do imunizante.

“Essa vacina salva vidas. Estamos falando de um vírus que está diretamente ligado a diferentes tipos de câncer, como o de colo do útero, o de garganta e o anal. Negligenciar isso é brincar com fogo”, alerta Dra. Fernanda.

Silêncio perigoso

Se há algo que este episódio expôs, foi a necessidade urgente de romper o tabu em torno da saúde íntima. Enquanto o assunto permanecer envolto em vergonha, o diagnóstico continuará chegando tarde demais para muitas pessoas.

Não se trata de alarmismo. Trata-se de consciência e prevenção. O câncer anal, embora raro, é tratável — especialmente quando identificado precocemente. Mas, para isso, é preciso falar sobre ele. Informar. Orientar. E, acima de tudo, tirar o peso do julgamento sobre escolhas pessoais que, com o cuidado adequado, não deveriam ser motivo de risco à saúde.

A conversa desconfortável que tomou conta da internet não deve ser esquecida depois que os holofotes se apagarem. Ao contrário. É justamente nesse desconforto que nasce a urgência de discutir o que, por muito tempo, foi sussurrado — ou simplesmente ignorado.

Porque o que não se fala, não se previne. E o que não se previne, muitas vezes, não tem volta.