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Avião acaba de cair no Brasil e não deixa sobreviventes, abordo estava o que…Ver Mais

Tragédia no céu: piloto veterano morre em queda de avião agrícola em Capela, e acidente reacende alerta sobre riscos da aviação no campo

Por Redação | 4 de julho de 2025

Era para ser mais uma manhã comum nos céus de Sergipe. Mas às 10h47 desta sexta-feira (4), algo saiu do controle. No silêncio abafado pelos canaviais entre Capela e Riachuelo, um ruído seco e curto rompeu a paisagem sonora costumeira. Minutos depois, uma coluna de fumaça preta riscou o céu como um aviso — algo grave havia acontecido.

O avião agrícola modelo EM-2010, pilotado pelo experiente Alexandre Farias, 52 anos, caiu enquanto realizava mais uma operação de pulverização. Ele estava sozinho na cabine — prática comum nesse tipo de voo. Quando a comunicação com o rádio cessou abruptamente, o Grupamento Tático Aéreo (GTA) foi acionado. O helicóptero da polícia sobrevoou a área três vezes até localizar os destroços, quase invisíveis em meio à alta vegetação da lavoura.

O corpo de Alexandre foi encontrado junto aos restos da fuselagem. Não houve tempo para socorro. A Secretaria de Segurança Pública inicialmente informou que o acidente havia ocorrido no município de Riachuelo, mas, horas depois, corrigiu: foi em Capela. A confusão, aparentemente trivial, evidencia um problema recorrente — a dificuldade de localização em zonas rurais cortadas por estradas vicinais e campos de difícil acesso.

A queda do EM-2010 interrompe não apenas uma operação aérea, mas uma vida dedicada ao voo. Segundo colegas, Alexandre era meticuloso, apaixonado pela aviação rural e admirado por sua disciplina técnica. “Voava baixo, mas sonhava alto”, disse, emocionado, o mecânico José Monteiro, com quem o piloto dividia o hangar há mais de uma década.


Um perigo silencioso que voa rente ao chão

A aviação agrícola é, de longe, uma das mais perigosas entre as operações civis. Voar a poucos metros do solo, entre torres, fios de alta tensão e árvores, sob calor extremo e sob pressão para otimizar tempo e combustível, é um trabalho para poucos. A taxa de acidentes fatais nessa categoria supera a de companhias aéreas comerciais. E não poupa nem os mais experientes.

O EM-2010 da empresa R Pilau Serviço, que operava com documentação em dia, não contava com caixa-preta de voz — esse tipo de aeronave geralmente não possui. No entanto, técnicos do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) recolheram amostras de combustível, partes da hélice e o módulo de gravação de parâmetros de voo. As investigações já começaram.

Segundo o coronel Fernando Góes, comandante do GTA, o helicóptero de resgate precisou guiar os bombeiros por GPS devido ao difícil acesso à área. “A cana alta escondia tudo. Era como procurar uma agulha no palheiro”, relatou.


Fatores de risco: quando o campo se transforma em armadilha

A cada passada sobre um talhão, aumenta a exaustão do piloto. A deriva química — partículas de agrotóxicos que turvam a visão —, o calor intenso e a pressão por produtividade criam um cenário perigoso. Qualquer falha mínima pode ser fatal. Em 2024, foram registrados 27 acidentes com aviões agrícolas no Brasil. Sete resultaram em mortes.

Mais de 85% das 2.500 aeronaves agrícolas em operação no país não contam com torres de proteção ou sistemas de alerta. O Brasil discute, há anos, a instalação de sensores de proximidade e modernizações tecnológicas no setor, inspirando-se em modelos internacionais como o da National Agricultural Aviation Association, nos EUA. Mas esbarra nos altos custos e na falta de fiscalização adequada.


A política se move — devagar demais

No Congresso, o Projeto de Lei 268/25, que prevê a criação do Fundo Nacional de Modernização da Aviação Agrícola, foi aprovado em primeira votação em maio. Agora, com a tragédia desta sexta-feira, a pressão aumenta para que o debate avance. Especialistas reforçam: o investimento em segurança não pode esperar a próxima vítima.


O legado de quem partiu no ar

Enquanto técnicos do Seripa II trabalham na análise preliminar, que deve sair em até 30 dias, a ausência de Alexandre já pesa nos hangares e na casa onde sua família aguarda a liberação do corpo. O relatório final pode levar até um ano, mas nenhuma conclusão devolverá o piloto aos céus que tanto amava.

Em 2023, outro EM-2010 caiu no Mato Grosso após colidir com fios de alta tensão — sem vítimas, mas o padrão levanta preocupações. Quantos alertas ainda serão necessários?

Na próxima segunda-feira, antes da primeira decolagem, é possível que colegas de profissão façam um gesto silencioso: um minuto com os motores desligados. Uma homenagem singela para um piloto que caiu voando baixo — num ofício que toca o céu, mas arrisca a vida na linha do horizonte.