Antes da sua morte Papa Francisco faz curioso pedido a Lula. ‘Liberte o p’… Veja mais

Em tempos de tensões políticas e transformações sociais profundas, o Vaticano se firma como um dos mais simbólicos palcos diplomáticos do cenário internacional. Liderado pelo papa Francisco, o pontificado mais politicamente ativo dos últimos tempos, o local tem recebido chefes de Estado e autoridades mundiais para tratar de temas cruciais — e o Brasil tem sido uma presença frequente nessas conversas. Entre encontros, críticas veladas e declarações diretas, o papa não se furta a opinar sobre a política brasileira e suas figuras centrais.
Lula e Dilma: visitas oficiais e respaldo moral do pontífice
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ex-presidente Dilma Rousseff mantêm uma relação próxima com o papa Francisco, baseada em ideais comuns como justiça social, combate à pobreza e defesa dos direitos humanos. Ambos foram recebidos pelo líder da Igreja Católica durante seus mandatos — e também após deixarem o Planalto.
Em junho de 2023, Lula participou de uma reunião bilateral com o pontífice na região da Apúlia, no sul da Itália, onde debateram sobre a necessidade de construir a paz mundial, enfrentar a fome e reduzir as desigualdades globais. Dois meses antes, Dilma, atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (o “Banco dos Brics”), também foi recebida no Vaticano, em visita que reforçou o prestígio da ex-presidente junto a Francisco.
Lawfare, condenações e o papel da justiça
As declarações mais contundentes do papa sobre o Brasil, no entanto, vieram fora dos corredores diplomáticos e ganharam o mundo em entrevistas. Em março de 2023, à emissora argentina C5N, Francisco afirmou que Lula foi condenado “sem provas” e que Dilma Rousseff é uma “mulher de mãos limpas”. As falas repercutiram fortemente no país, especialmente por se referirem diretamente à Operação Lava Jato e ao processo de impeachment de Dilma.
Para o pontífice, os dois casos exemplificam o chamado lawfare — termo que descreve o uso da Justiça como instrumento de perseguição política. Francisco associou o cenário brasileiro a outras nações sul-americanas, como Argentina e Bolívia, sugerindo que a manipulação judicial é uma tática regional.
“O caminho é aberto com os meios de comunicação. Devem impedir que este [político] chegue ao poder. Então o desqualificam, criam uma denúncia gigante, mas onde está o crime? Assim foi condenado Lula”, disse o papa na entrevista.
O silêncio (e as indiretas) no governo Bolsonaro
Durante o governo de Jair Bolsonaro, o clima entre o Vaticano e Brasília foi bem menos caloroso. Embora Bolsonaro tenha viajado a Roma para participar da cúpula do G20 em 2021, não houve encontro com o papa — ao contrário de outros líderes presentes, como o presidente norte-americano Joe Biden.
Mesmo sem reuniões oficiais, o papa Francisco deixou mensagens que muitos interpretaram como críticas indiretas ao então presidente. Em outubro de 2022, durante saudação na Praça São Pedro, ele pediu à padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, que livrasse o país “do ódio, da intolerância e da violência” — uma fala que gerou polêmica em plena época de eleições presidenciais.
Para apoiadores de Bolsonaro, a fala soou como um posicionamento político em favor de Lula. Já para analistas e setores da sociedade civil, o papa fazia um apelo por reconciliação nacional.
Francisco, o papa das causas sociais e políticas
Desde o início de seu pontificado, Francisco rompeu com a tradição do silêncio político de seus antecessores. Argentino e com forte trajetória em meio às turbulências da América Latina, o papa vem se posicionando sobre desigualdades, migrações, meio ambiente e violações de direitos — sempre com linguagem acessível e apelos morais poderosos.
No caso do Brasil, seu olhar parece estar atento não apenas ao cenário político, mas também às feridas sociais deixadas por anos de polarização e desconfiança institucional. Ao se referir a Lula e Dilma com termos como “injustiça” e “mãos limpas”, Francisco não apenas expressa opinião, mas também pressiona por uma reflexão mais ampla sobre o papel da Justiça e da mídia na democracia.
Vaticano e Brasil: uma relação que vai além da fé
A relação entre o Vaticano e o Brasil sempre foi significativa — afinal, o país abriga a maior população católica do mundo. Mas, sob o pontificado de Francisco, essa conexão ganhou novos contornos. Não se trata apenas de fé, mas também de valores, política e futuro. O papa parece enxergar o Brasil como um país-chave para a construção de uma nova ordem global mais justa, solidária e pacífica.
E, ao contrário do que muitos esperam de uma liderança religiosa, Francisco não tem medo de provocar — nem de se posicionar.
