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Era para ser apenas mais uma terça-feira comum na pacata Estação, cidade de pouco mais de 5,5 mil habitantes no interior do Rio Grande do Sul. O relógio marcava por volta das 10h quando os gritos ecoaram pelos corredores de uma escola localizada bem no centro da cidade. No lugar da rotina, o caos. No lugar da inocência, o medo. O que parecia inimaginável aconteceu em plena luz do dia: um adolescente de 16 anos invadiu uma sala de aula e iniciou um ataque brutal com faca e artefatos explosivos improvisados.

As vítimas? Crianças com apenas 7 e 8 anos, alunos do 3º ano do ensino fundamental. Entre elas, um menino que não resistiu aos ferimentos.

O início do terror

Segundo testemunhas, o jovem chegou à escola alegando que queria entregar um currículo. Nada parecia fora do normal. Ele foi autorizado a entrar. Em seguida, pediu para usar o banheiro — e foi aí que o plano sombrio começou a se desenrolar. Sem levantar suspeitas, seguiu pelo corredor até encontrar a sala onde as crianças estavam tendo aula.

Em questão de segundos, o ambiente de aprendizado virou cenário de horror. O adolescente atirou bombinhas no chão para causar pânico e distração, e então partiu para o ataque com uma faca. Quatro pessoas foram feridas — três crianças e uma professora.

O golpe mais grave atingiu um menino no tórax. Levado às pressas ao Hospital São Roque, em Getúlio Vargas, ele não resistiu aos ferimentos. A dor de sua perda silenciou a cidade.

“Foi tudo muito rápido”

“Entrou com uma faca, usou bombinhas para assustar e atacou as crianças”, contou, visivelmente abalado, o prefeito Geverson Zimmermann. Duas outras crianças sofreram cortes na cabeça e permanecem sob observação médica. A professora ferida foi encaminhada para o Hospital Santa Terezinha, em Erechim, sem risco de vida.

As cenas dentro da escola foram descritas como “desesperadoras” por profissionais e socorristas. Alguns alunos correram, outros se esconderam. Muitos choravam, sem entender o que estava acontecendo. O que era para ser apenas mais uma manhã de estudos virou um trauma coletivo.

Cidade em choque, famílias devastadas

Enquanto os portões da escola se fechavam às pressas, os portões do medo se abriam em toda a cidade. Pais correram em desespero ao saber do ataque. Muitos esperavam, aflitos, sem notícias sobre os filhos. O luto era visível no rosto de cada morador. A tragédia não atingiu apenas a escola — atingiu a alma da cidade.

A Prefeitura de Estação suspendeu as aulas em toda a rede municipal por tempo indeterminado e mobilizou equipes de apoio psicológico para atender as famílias e profissionais afetados. “Estamos todos arrasados. Isso não deveria acontecer. Nunca”, disse uma moradora, em meio às lágrimas.

Quem era o agressor?

O adolescente responsável pelo ataque era conhecido na cidade. De acordo com vizinhos, estava em tratamento psiquiátrico. Seu perfil e as possíveis motivações estão sendo investigados pela Polícia Civil, que apura se houve premeditação no crime. O acesso facilitado à escola levanta questionamentos urgentes sobre falhas na segurança e na prevenção de tragédias como essa.

Como alguém com sinais de vulnerabilidade emocional conseguiu transitar tão facilmente em um ambiente escolar? Quantas camadas de alerta foram ignoradas? E, acima de tudo: quantas tragédias ainda serão necessárias até que políticas sérias de proteção e saúde mental nas escolas sejam tratadas com a devida urgência?

Feridas abertas e perguntas sem resposta

A dor da perda é incomensurável. A escola, agora fechada e silenciosa, guarda cicatrizes visíveis e invisíveis. A família da criança morta enfrenta o inominável: o luto por um filho que saiu de casa para aprender e nunca mais voltou.

Enquanto isso, pais em todo o Brasil se perguntam: meus filhos estão seguros na escola? A comunidade de Estação tenta se recompor, mas o trauma permanece. A tragédia reacende, mais uma vez, um debate essencial e ainda negligenciado: o estado emocional de nossos jovens e os mecanismos de proteção que (não) existem em nossas instituições de ensino.

Um pesadelo que não termina ao acordar

Estação agora carrega uma dor que não se apaga com o tempo. O que parecia um episódio distante, algo que só acontece “em outros lugares”, se materializou dentro de seus muros. Um ataque cruel, premeditado ou não, que deixa uma cidade em silêncio, um país em alerta — e uma pergunta ecoando, sem resposta: como proteger o futuro quando o perigo se esconde no presente?